Translate

domingo, 26 de agosto de 2012

VOCÊ É UM SERVO INÚTIL?


  Será que o Senhor Jesus fez mesmo a afirmação que tanto conhecemos desde a nossa infância, registrada em Lc 17.10, de que “...depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer”, será mesmo?

Logo de início, deve ser considerado que nos deparamos com um problema de tradução.

Embora a palavra grega utilizada - άχρειος –tenha dois sentidos: inútil e indigno, a nosso ver, com todo o respeito para com os tradutores da Bíblia para o português, a escolha da tradução “inútil” foi infeliz, pois à luz das considerações que a seguir apresentamos, torna-se evidente que o sentido da afirmação de Cristo é de que a nossa condição perante Deus, depois de fazermos tudo que é do nosso dever realizar, é a de “servos indignos” e, jamais, de “servos inúteis”. Isto é, mesmo sendo bons crentes, dedicados, obedientes e cumpridores da vontade de Deus, não nos tornamos merecedores do favor divino, continuamos sem mérito, totalmente dependentes da graça e da misericórdia de nosso Pai celestial.

“Servos indignos” sim, “servos inúteis” nunca. As versões pesquisadas no idioma inglês coincidem com nossa interpretação, usam as expressões “unworthy servants”, “worthless slaves” ou “ordinary servants”. Todo sentido é o da falta de mérito e, não, o sentimento de inutilidade, de não servir para nada.

Todos temos a consciência do chamado de Deus para serví-lo, à sua Igreja e ao nosso próximo, “somos salvos para servir”. O apóstolo Paulo afirma que Deus “nos deu o ministério da reconciliação...e nos confiou a palavra da reconciliação”, que “somos embaixadores de Cristo” e “cooperadores com Ele” (2 Co 5.18-21). Embora indignos, pela Sua graça, Deus nos usa, somos úteis nas Suas santas mãos, tanto que o mesmo apóstolo solenemente nos exorta: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (I Co 15.58).

Cabe recordar a parábola dos talentos contada pelo Senhor Jesus e registrada no Evangelho segundo Mateus 25.14-30. Um homem ausentou-se do seu país, chamou os seus servos e lhes confiou os seus bens. Distribuiu talentos entre eles de modo justo, considerando a capacidade de cada um. Deu cinco talentos a um, a outro, dois e a outro, um. Os dois primeiros recorreram ao mercado, negociaram e ganharam outro tanto dos talentos recebidos. O terceiro foi negligente, abriu uma cova e escondeu o seu talento. Quando o Senhor voltou, chegou a hora da prestação de contas. Aqueles que receberam cinco e dois talentos foram recompensados e cada um chamado de “servo bom e fiel”. O que enterrou o talento, que foi mau e negligente, é que foi chamado de “servo inútil” e castigado.

O escritor aos Hebreus (6.10) nos traz uma palavra confortante ao afirmar: “Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos santos”.

Que sejamos agradecidos a Deus, pois em Sua bondade revelada cada dia em nossas vidas, mesmo sem merecermos, Ele nos usa no Seu trabalho, concedendo-nos dons e talentos para servir a Ele, à Sua Igreja e ao nosso próximo. Amém.

Nenhum comentário:

Postar um comentário